Como foi participar WWR European Championship

Nosso vice-Presidente e Árbitro Internacional, professor Mateus Campana, compartilha aqui sua experiência de trabalhar no WWR European Championship

Professor Mateus Campana em atuação na partida entre República Tcheca e Suíça. Divulgação

Eu, Mateus Betanho Campana, sou docente do curso de Educação Física no Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS-CPAN) e tive a honra de representar a UFMS e o Brasil no 2023 WWR European Championship, que ocorreu entre os dias 3 e 8 de maio de 2023 na cidade de Cardiff – País de Gales.

Além de ser docente na UFMS, sou árbitro Internacional da modalidade Rugby em Cadeira de Rodas e Vice-presidente Administrativo da Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas (ABRC).

Para mim, ter a oportunidade de levar os nomes da UFMS-CPAN, do Brasil e da ABRC para o mundo do Rugby em Cadeira de Rodas é uma experiência única. Me sinto sempre muito contente em poder participar de eventos internacionais de Rugby em Cadeira de Rodas, e levar o nome da arbitragem brasileira, da ABRC e da UFMS-CPAN comigo. É comum as pessoas pensarem no Brasil e lembrarem somente das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e da Região Nordeste, então poder mostrar que temos muito mais que isso, é realmente uma experiência única e muito gratificante.

Outro ponto que destaco é a possibilidade de conhecer pessoas de várias partes do planeta “Sempre que vou apitar em um torneio internacional acabo conhecendo novas pessoas, com experiências de vida muito diferentes da minha, e isso é muito enriquecedor. Já tive a oportunidade de trabalhar com pessoas da Alemanha, Inglaterra, País de Gales, Polônia, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Canadá, França, Suécia, Noruega, Coreia do Sul, Áustria, Nova Zelândia e Japão”.

Sempre que volto de um torneio, chego cheio de histórias e de aprendizados, e isso eu faço questão de dividir com meus alunos, para mostrar para eles que pessoas com algum tipo de deficiência tem muito mais potenciais do que limitações e para mostrar também que o universo da Educação Física é gigantesco. O que nos limita são nossas crenças limitadoras e nossas próprias imposições.

Equipe de arbitragem, Comissários de Jogo, Chefe dos Árbitros e Avaliadores.
 
Da esquerda para a direita: Yun Ho Kim (Coreia do Sul), Katharina Adler-Dohlhofer (Áustria), Kristin Hempfling (Alemanha), Elwira Zielska (Polônia), Kerin Banfield (agachada – EUA), Benjamin Weiss (Alemanha), Alicja Pawlik (Polônia), Dave Woods (Inglaterra), Ulrica Ulfson (agachada – Suécia), Mateus Campana (Brasil), Paulina Szmit (Polônia) e Hannah Aldridge (Inglaterra)

Também tenho um enorme prazer em dividir e replicar com meus colegas da arbitragem nacional todas as experiências e aprendizados, ajudando a promover e a elevar o nível da arbitragem brasileira. Nunca me esqueço do meu mentor internacional, Gilles Brìe, que sempre me disse: “Existem dois tipos de árbitros no Rugby em Cadeira de Rodas: aqueles que ficam em casa e os que viajam o mundo. Você escolhe qual você quer ser”.

Para mim, a estrutura oferecida pela organização local foi de excelência. Os hotéis ficavam a menos de 15 minutos de caminhada, a estrutura do Estádio é de elevadíssimo nível, com ambientes muito confortáveis para as refeições e com bebida quentes (chá e café) disponíveis o tempo todo.

Outro ponto muito positivo foi a quantidade de voluntários no evento. Voluntários esses extremamente cuidadosos e simpáticos, sempre disponíveis para auxiliar da melhor maneira possível.

Cada equipe tinha um voluntário designado, que auxiliava em questões práticas do dia a dia da competição, como garantir o embarque e o desembarque das delegações nos horários e locais corretos, solucionar pequenos imprevistos e problemas menores etc.

Como esperado, no primeiro dia da competição houve pequenos atrasos no início das partidas, problema esse solucionado com uma breve conversa entre os técnicos/responsáveis pelos times, os oficiais técnicos responsáveis pelo andamento do jogo e a equipe de transmissão.

Tivemos também um imprevisto com goteiras que estavam pingando na quadra principal do torneio. Por uma manhã as partidas foram realizadas na quadra de aquecimento, tempo esse suficiente para a equipe de manutenção do Estádio promover reparos que tornaram possível a realização de todas as outras partidas na quadra principal, mesmo com pequenos e específicos pontos ainda ficando molhados.

O 2023 WWR European Championship garantiu duas vagas para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Como a final foi disputada pelas equipes da Grã-Bretanha (GB) e da França (e a França já está qualificada para Paris 2024), ao chegar à final, a GB também garantiu sua vaga nas Paralimpíadas do próximo ano. Ficou então para o terceiro colocado no evento a vaga remanescente.

Como esperado, tanto a final entre França e GB quanto a disputa do terceiro lugar, entre Dinamarca e Alemanha, foram jogos excelentes. Na disputa pela vaga remanescente para Paris 2024, a equipe da Dinamarca superou a equipe alemã.

Um fato inédito que ocorreu no 2023 WWR European Championship foi a presença dos dois únicos árbitros internacionais da América Latina apitando juntos uma partida internacional. Tive a enorme honra e o privilégio de dividir a quadra com meu grande amigo e hermano Diego Ceballos (Argentina). Essa foi a primeira vez na história do Rugby em Cadeira de Rodas que dois árbitros latino-americanos atuaram juntos em um evento internacional.