Em um meio em que homens ainda são a grande maioria, três jovens mulheres vêm conquistando espaço no comando técnico de equipes de Rugby em Cadeira de Rodas que disputam o XVI Campeonato Brasileiro da modalidade.
Beatriz Lucena, Ane Ramiro e Daniela Silveira estão, respectivamente, à frente de CETEFE Lobos (DF), MSB Quad Rugby (SP) e Arretados (PB), que disputam atualmente a 2ª Divisão nacional no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo (SP). Elas trilham uma importante trajetória de liderança feminina dentro de um esporte que, aos poucos, vê crescer a participação das mulheres tanto dentro quanto fora das quadras.
Mais experiente do trio, Ane Ramiro, de 31 anos, está em sua primeira temporada à frente do MSB Quad Rugby (SP), mas antes de assumir o time de Bebedouro (SP) ela fez parte da equipe Titans, de Colombo (PR), desde 2017.
“Acho que a gente [mulheres] vem crescendo e ganhando nosso espaço. Sabemos que, assim como a sociedade, que vem de uma questão de machismo e patriarcado, o Rugby também tem isso. Penso que é cada vez mais importante termos mulheres na beira da quadra, mas também em outros papeis na comissão, como as fisioterapeutas, enfermeiras e outras trabalhadoras que estão aqui. É preciso que tenhamos esse espaço”, avaliou Ane.
Ane Ramiro durante a partida da sua equipe MSB e o Arretados (foto Thelma Vidales)
Mais jovem entre as três, Beatriz Lucena tem apenas 24 anos e está à frente do CETEFE Lobos há duas temporadas. Na edição do Campeonato Brasileiro de 2023, ela esteve no comando da equipe feminina do CETEFE Lobos, entrando para a história como a primeira equipe 100% formada por mulheres na competição nacional.
“Para mim, nunca foi como se não pudéssemos participar. Claro que hoje em dia, dentro do esporte, não somos a maioria, mas no rugby existe espaço para as atletas. E aqui temos algumas técnicas, fisioterapeutas, staffs que são mulheres, árbitras e mesárias também. Então tem havido oportunidades para todas que quiserem”, comentou Beatriz, que além da função no CETEFE Lobos também faz parte da comissão do técnico Benoit Labrecque na Seleção Brasileira.
Beatriz Lucena à frente do CETEFE Lobos (foto Ale da Costa)
Já Daniela Silveira, de 31 anos, faz sua estreia na competição. Ela está há dois anos como parte do projeto dos Arretados, mas assumiu como treinadora da equipe de João Pessoa (PB) há apenas cinco meses.
“Acho muito importante essa representatividade que está começando a despontar. Quando eu conheci o Rugby dois anos atrás, era totalmente tomado por homens. Mas eu comecei a ver, de fato, a movimentação das mulheres em todas as linhas da ABRC, como na arbitragem e agora com mais técnicas também. É importante termos mais mulheres dentro do esporte”, comentou Daniela.
O trio segue os passos de uma grande referência feminina no Rugby em Cadeira de Rodas, Ana Ramkrapes. A frente do projeto do Gigantes (SP) desde 2013, ela foi a primeira mulher a treinar uma equipe no país, já comandou a Seleção Brasileira e atualmente é auxiliar técnica de Benoit Labrecque. Realizando estudos na Inglaterra, Ana não pôde estar na beira de quadra no Campeonato Brasileiro de 2024 e o Gigantes (SP) está sob comando de Pedro Rosa.
Daniele Silveira treinadora da equipe Arretados
“Quando comecei a assistir os jogos de Rugby eu vi que tinha uma mulher ali e peguei como referência. Procurei saber quem era, busquei o nome dela na comissão da ABRC e vi que está fazendo um estudo, um doutorado. E olha… Essa é uma referência para a gente ter e vermos que temos opções de crescimento dentro do Rugby, até de chegar numa Seleção Brasileira”, relatou Daniela.
Ana rompeu importantes barreiras em um momento em que o esporte era ainda mais dominado pelos homens. Ela abriu caminhos para que outras mulheres pudessem tomar a mesma direção dentro da modalidade.
“Eu tenho a Ana como exemplo desde que entrei no Rugby e assumi uma equipe como técnica. Sempre escutei os homens dizerem que a Ana é brava, porque às vezes ela grita, dá uma bronca… Mas tem técnicos homens que fazem a mesma coisa e a gente não escuta isso. Então, tendo ela fazendo esse trabalho eu me sinto à vontade. Porque ela abriu esse caminho para todas nós que viemos depois dela. É um exemplo tanto de trabalho quanto de postura”, ressaltou Ane Ramiro.
“Tenho oportunidade de estar próxima e ela sempre se mostrou uma pessoa muito aberta, sempre ajudando, A Ana é muito importante para o Rugby do Brasil, muito influente. Para mim, é uma das melhores técnicas que temos atualmente”, contou Beatriz, que convive com Ana em períodos em que a Seleção Brasileira está reunida. “Falamos bastante sobre construir o seu espaço, merecer estar lá, conquistar algo. Admiro muito a Ana, sou muito grata, e fico feliz de continuar aprendendo com ela”, completou.
Para conferir todos os resultados e próximos jogos do XVI Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas acesse os Boletins Oficiais:
O XVI Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas é apoiado pelo CBCP – Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos, Coloplast, Alphamix, Comitê Paralímpico Brasileiro e Loterias Caixa/Governo Federal.
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