À primeira vista, sem uma das mãos e sem os pés devido a uma má formação congênita, pode parecer que Júlio Cezar da Rocha esta em desvantagem dentro de quadra. Mas bastam apenas alguns minutos para ver o caçula da seleção voando durante o jogo, marcando gols para o Brasil e mostrando toda sua desenvoltura com a cadeira. Recentemente, as regras do rugby em cadeira de rodas mudaram, e a modalidade que antes era direcionada apenas para atletas com tetraplegia passou a abrigar também pessoas com lesões equivalente, com comprometimento de três membros ou mais. Caso de Júlio, praticante da modalidade há pouco mais de um ano e que fez sua estreia em torneios internacionais pela seleção no evento-teste, neste fim de semana, na Arena Carioca 1 do Parque Olímpico, no Rio de Janeiro.

No rugby paralímpico, os atletas são classificados de acordo com suas limitações funcionais. A pontuação atribuída aos jogadores pode variar entre 0,5 e 3,5; quanto maior o número, maior a mobilidade do atleta. Júlio tem a pontuação 3,5, e a explicação para a alta classificação é simples: mesmo sem as pernas e sem uma mão, ele consegue controlar a cadeira com o tronco e tem uma mão perfeita, característica que a maioria dos outros jogadores não têm.
– Para classificação ele é um ótimo condutor de bola, e com o controle de tronco que ele tem, ele consegue fazer coisas que outros não fazem. Pular com a cadeira, dar uma pancada maior na hora dos choques e controlar a cadeira nesses momentos. Ele consegue propulsionar o quadril para frente, e isso dá um impulso a mais nos choques e faz muita diferença – explicou o técnico da seleção brasileira, Rafael Botelho.

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Júlio tem alta classificação funcional por ter movimento de tronco e uma mão perfeita (Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB)

Nascido no Rio de Janeiro, morador de Mesquita, na Baixada Fluminense, Júlio, de 24 anos, foi descoberto durante um campeonato de handebol em cadeiras de rodas. Convidado para participar de uma semana de treinamento junto com a seleção de rúgbi, percebeu que era esse seu esporte e largou o handebol. A comissão técnica da seleção brasileira também notou seu potencial e não demorou muito para ele ganhar seu lugar vestindo a camisa verde-amarela.
– Quando conheci o rúgbi foi paixão à primeira vista. Gostei muito porque o handebol não tem muito contato, e isso que me chamou atenção. No handebol eu tinha mais comprometimento por ter só uma mão, e no rúgbi eu descobri que eu sou mais funcional. Posso botar a bola no colo, e handebol não pode. Isso me facilitou bastante.
Apesar da idade e da falta de experiência, Júlio vem mostrando que é uma grande promessa no esporte. Em seu primeiro torneio internacional, ganhou elogios do técnico Rafael logo na estreia contra o Canadá, líder do ranking mundial. Sem se abater por estar jogando contra a melhor seleção do mundo, o jovem mostrou personalidade em quadra.
– O que ele propôs mudou a tática do Canadá várias vezes. Assim como no basquete, o rúgbi tenta quebrar o máximo o padrão de segurança, e quando a gente coloca o Júlio muda um pouco o que acontece em quadra a nosso favor. A gente torna um pouco imprevisível, e tem esse tempero a mais – destacou o treinador.

Fonte: Globo.com – supervisão de Helena Rebello